A Cozinha
Uma mulher do povo tillamook encontrou, no meio do bosque, uma cabana da qual saía fumaça. Aproximou-se, curiosa, e entrou.
No centro, entre pedras, ardia o fogo.
No teto, estavam pendurados muitos salmões. Um deles caiu sobre sua cabeça. A mulher apanhou-o e colocou-o em seu lugar. Novamente o peixe se desprendeu e bateu na sua cabeça, e ela tornou a pendurá-lo e o salmão a cair.
A mulher atirou ao fogo as raízes que tinha apanhado para comer.
O fogo queimou-as num instante. Furiosa, ela bateu na fogueira com o atiçador, uma e outra vez, com tanta violência que o fogo estava apagando-se quando chegou o dono da casa e deteve o braço.
O homem misterioso avivou as chamas, sentou-se junto da mulher e explicou:
- Você não entendeu.
Ao bater nas chamas e dispersar as brasas, ela esteve a ponto de deixar o fogo cego, e esse era um castigo que ele não merecia. O fogo tinha comido as raízes porque pensou que a mulher estava oferecendo-as. E antes, tinha sido o fogo quem desprendera o salmão uma e outra vez sobre a cabeça da mulher, mas não para machucá-la: essa tinha sido sua maneira de dizer-lhe que podia cozinhar o salmão.
- Cozinhá-lo? O que é isso?
Então o dono da casa ensinou a mulher a conversar com o fogo, a dourar o peixe sobre as brasas e a comer com alegria.
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Eduardo Galeano, memorias do fogo, vol 1, Os nascimentos.
O autor se propõe a narrar a história da América, e sobretudo a história da América Latina, em um vasto mosaico.Divido em duas partes, na Primeira, a América pré-colombiana se desdobra através dos mitos indígenas da fundação. A segunda abrange dos últimos anos do século XV até o ano de 1700.
Ao pé de cada texto, entre parênteses, os números indicam os principais livros que o autor consultou em busca de informação e pontos de referência.
Neste caso: El hombre desanudo (Mitológicas,IV) México, Siglo XXI,1976

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