quarta-feira, 9 de abril de 2008

Uma distribuição paradoxal

O Economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea), avalia que o Brasil convive hoje com uma experiência de distribuição paradoxal de renda. Paradoxal, diz porque simultaneamente à melhor redistribuição no interior da renda do trabalho, nota-se justamente a continuidade na compressão do peso relativo do rendimento do trabalho na renda nacional, influenciada pelo maior crescimento da riqueza dos proprietários. Ou seja, embora parte dos salários tenha se reduzido no conjunto das rendas e investimento no País, entre os assalariados, os que ganham mais perderam espaço para aqueles não tão bem remunerados.
Pochmann constata que há pouca discussão a respeito do assunto. Ao contrário do que ocorria nos anos 70, quando a divulgação de dados estatísticos pelos órgãos oficiais gerava intensos debates, hoje há o predomínio de discussões paralisantes, quando não acomodativas. Esse tom do debate contribui para sugerir que o País segue no rumo certo, sem necessidade de mudanças. Mesmo sem expansão sustentada da economia nacional, o povo passaria por condições de vida e de trabalho superiores e, para alguns, jamais vistas historicamente, diz ele, com ironia.
As variações da renda da propriedade e do investimento entre 2000 e 2005 mostra que enquanto a parte dos trabalhadores caiu 2,1% e a do investimento 3%, a renda da propriedade cresceu 4,7%.
Isso significa que parte da renda do conjunto dos verdadeiramente ricos afasta-se cada vez mais da condição do trabalho para aliar-se a outras modalidades de renda, como aquelas provenientes da pose da propriedade (terra, ações, títulos financeiros, entre outras)
No caso da redistribuição de renda entre os que vivem do trabalho, ele diz que os 10% de maior remuneração ficaram, em 2005 com 44,7% vo valor total, abaixo dos 48,1% de quinze anos antes.
Porém, lembra ele, essa redução está directamente associada à desectructuração do mercado do trabalho brasileiro, fruto da adaptação de nossa economia ao processo de globalização. Produzimos cada vez mais bens de baixo valor agregado e utilizamos cada vez mais o que ficou conhecido como "padrão asiático" de emprego, com baixa remuneração, alta rotatividade e extensa jornada de trabalho.
(continua)
Retrato do Brasil, nro 8, Editora Manifesto. São Paulo,2008


3 comentários:

Helô disse...

Ruben, sou um zero à esquerda em economia, mas entendo a linguagem do meu bolso. Traduzindo em miúdos, a classe média indo ralo abaixo. É isso?
beijo.

Wine Broker disse...

Olá Helô
Sim, a impressão é que por um lado, temos os assalariados que ganham bem perdendo espaço ante os mais ricos e pr outro lado uma melhora na participação dos assalariados de menor renda. Ele diz que há 1,16 milhão de famílias ricas no País, com renda mensal per capita de, no mínimo, 11 mil reais e que elas se concentram em quatro cidades:São Paulo, Rio,Brasília e BH.

Helô disse...

Não tinha idéia de números, mas a lista das cidades não me surpreende. Provavelmente Porto Alegre seja uma das capitais com melhor índice de distribuição de renda.