segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Fragmentos do Livro Os Sentidos do Vinho de Matt Kramer

No fundo, o que nos atrai no vinho é seu mistério. A despeito de todo o empenho agrícola aplicado na sua produção, o que o vinho extrai da Terra é algo que não pode ser totalmente explicado. Vinhos feitos com a mesma variedade de uva podem ter sabores diferentes mesmo quando apenas algumas centenas de metros separam as vinhas. De início, procuramos respostas tecnológicas para esse mistério e de fato, encontramos algumas. Um produtor gosta de armazenar seu vinho em barricas novas de carvalho, que dão à bebida um aroma e um sabor particulares. Outro usa apenas aço inoxidável. Um fermenta o mosto em alta temperatura por um curto período de tempo, enquanto outro prefere fazê-lo a uma temperatura mais baixa e durante mais tempo. Em gral, cada um deles está convencido de que sua abordagem é a correta.
Mas, depois de degustar alguns vinhos, ler alguns livros e conversar com alguns produtores, começamos a nos dar conta de que não há resposta correta.
Em sua melhor forma, as uvas costumam dar voz a Terra. Este é o atrativo duradouro, quase primordial, dos grandes vinhos, o que nos faz apreciá-los geração após geração: os vinhos expressam sua origem com magnífica definição. Hoje nossa visão dos vinhos é cada vez mais mecanicista. Eles são julgados como atletas e ganham notas como tais. Atualmente, além de estar na moda, é considerado plausível dizer que a pontuação de um vinho é 89, ao passo que a de outro é 92. Isso dá a impressão de que o vinho é uma substância de manufatura precisa - estática o suficiente para não apenas para receber como também para merecer uma pontuação exata. Esse comportamento reflete a crença contemporânea de que, em questão de gosto, tudo é relativo e, portanto, sujeito à competição.
A pontuação cria um falso sentimento de segurança (ou insegurança) e exagera a diferença entre vinhos em geral quase indistinguíveis. Quando um degustador examina centenas de vinhos, deve, afinal, delinear distinções, ainda que mínimas. As notas, porém, transformam montículos quase imperceptíveis em montanhas numéricas.
Por que o vinho nos atrai? Tal vez porque, ainda que dotado de uma nota, ele mais se pareça com uma pergunta do que com uma resposta em uma garrafa. O Poeta W. S Merwin entendeu a charada: “O segredo não deixa de existir porque participamos dele. [...] Tampouco o mistério se torna mais fácil de entender por estar mais próximo”.

Um comentário:

Wine Broker disse...

Entré en tú blog y es muy interesante.Claro que no leí todo pero lo que leí,caso Parker,me pareció super interesante.
Abrazos


Arnoldo