domingo, 2 de novembro de 2008

Jorge da Cunha Lima, Uma Bienal Vazia...

UMA SALA VAZIA PARA PENSAR O VAZIO 

É comum que arte se expresse com obras de arte, mais ainda uma mostra de arte. É ainda notório, que a modernidade brasileira teve dois momentos inaugurais: a Semana de Arte Moderna e , bem depois, a Segunda Bienal de São Paulo. Esta, foi a pedra lapidar do modernismo, enquanto consciência nova de contemplação artística. Já havia manifestações, mas o arrebatamento e a virada da mesa, só vieram depois da Segunda Bienal. 
Contudo, Bienal, como uma Nação, precisa ter projeto. Não surge do nada, muito menos dos impasses burocráticos da gestão da cultura. Aliás esse é um capítulo recorrente na história da arte contemporânea brasileira. Não temos gestores de instituições artísticas. As GVs e os MBAs não contemplam essa necessidade. Assim, quando se pensa em administração cultural, estão sempre pensando numa padaria ou numa fábrica de cerveja. Essas posturas quase exigem que a instituição cultural dê lucro, quando o lucro intangível da cultura é o produto cultural. 
Isso posto, voltemos ao tema. Além dos impasses burocráticos, há os impasses conceituais. Ninguém deseja ser curador. De fato, é uma tarefa ingrata. Primeiro curar as feridas para depois colocar o esparadrapo. Pior que isso, não são apenas as feridas, mas o grande vazio, o não sei para onde ir da pintura atual. Por mais imaginosas que sejam as instalações, eu diria com o saudoso Sergio Motta, que estão mais para masturbações sociológicas do que para obras de arte. Mesmo as mais criativas já estão superadas desde que Duchamps acendeu a luz vermelha para o parnasianismo pictórico. E nós insistimos em cultivar instalações no meio caminho das bienais que são as galerias de arte. 
Além disso não estamos com nenhuma bola no plano internacional. As oscilações caseiras produzem disturbios globais. Não é fácil trazer o que sobrou de pintura inovadora no mundo ocidental. A China ainda é um espirro estético cultivada por colecionadores especulativos. O Oriente é o Oriente. Difícil colher modernidade entre cerejas de moeda forte. 
Nesse deplorável contexto, a idéia de Ivo Mesquita é genial. Fazer da Bienal uma Anti-Bienal. Um exame de consciência do vazio. Do vazio gestor e do vazio criador. E se não houver pensamento para preencher as grandes salas vazias, então passaremos da concordata artística à falência espiritual. 

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