terça-feira, 19 de agosto de 2008

Orquestra típica

..." Sou do tempo em que os guris aprendiam na igreja a renunciar ao diabo, ao mundo e à carne e nos estádios a detestar a seleção argentina. Em linhas gerais, o pais odiava aqueles gringos de camisa azul e branca, calção preto, pernas branquelas, que representavam nosso maior e talvez único inimigo visível no planeta.
Perdíamos as copas Roca na escalação. Cómo resisitir aos Masantonios, Sastres, Pederneras, Peuceles, Dela Matas?. Fomos terceiros do mundo na Copa da França e os últimos na face da terra quando, logo depois, a Argentina nos enfiou acachapantes 5 a 0. Em São Januário, numa rixa memorável, 0 a 0 no placard, o juiz marca pênalti contra Argentina. Em sinal de protesto, os argentinos ( que os locutores de radio chamavam de portenhos) saíram de campo. A penalidade seria cobrada para o gol vazio. E aí foi o drama: ninguém queria bater o pênalti. As canelas nacionais tremiam diante da possibilidade de a bola não entrar no arco abandonado. O pavor era tanto que ergueu na linha de gol a muralha invisível de nossa inferioridade cívico-esportiva..."

Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo

Nenhum comentário: