sexta-feira, 30 de novembro de 2007

As cores, os cheiros e os sabores do vinho

Há tintos que, além dos aromas, frescuras e sabores a uvas maduras esmagadas suavemente, cheiram a todos os frutos vermelhos: cerejas, amoras, framboesas, groselhas. Mas também a flores e plantas. Por exemplo a violetas e esteva. E ainda a resinas e bálsamos. Ou especiarias. Em cada vinho há que procurar todos os encantos que ele tem para dar. Os tintos velhos presenteiam-nos com aromas outonais, que lembram o cheiro da terra molhada das primeiras chuvas, também nos deixam sugestões aromáticas de caruma de pinheiro seca e de avelãs, nozes ou amêndoas. Os tintos, ao bebê-los, sentimos uns mais jovens e nervosos, outros mais harmoniosos e redondos, uns mais frutados, outros mais secos, uns mais rudes outros mais finos, uns mais ligeiros outros mais encorpados. Há outros de tal modo macios que nos lembram o toque de certas peles e do melhor veludo.
Há tintos que se bebem como quem mastiga a melhor carne. São carnudos. Há os que se despedem mais rapidamente, há outros cuja lembrança permanece. Estes são os mais distintos e profundos, os que têm todas as qualidades-cor, aromas, sabores- mais concentradas e complexas. Os vinhos de uma vida.
Os generosos, ah! Os vinhos generosos, com a sua paleta de cores que percorre todos os tons de vermelhos, às vezes de uma opacidade luminosa. Á medida, porém, que envelhecem, tornam-se ambarinos, com tons acastanhados de ouro/velho.
Mas há alguns que ficam cor de café e, no núcleo central, com tons verde esmeralda ofuscantes. São belíssimos os generosos, logo na cor.
Depois são doces, de uma doçura fina, nunca enjoativa, cheiram a violetas e a frutos vermelhos silvestres muito bem maduros e sabem a passas e frutos vermelhos, de figos, de uvas, e a compotas. Também a frutos secos e café e chocolate e tabaco e especiarias raras e ainda a menta, por exemplo. Não se encontram todos estes aromas e sabores no mesmo vinho. mas encontraremos todos, e mais alguns, se bebermos regularmente, moderadamente, é claro, vinhos. Requerem paciência os generosos. Aos melhores deles a passagem do tempo engrandece-os. "Sol engarrafado" chamou-lhes um poeta. Sabia do que falava.
Alma Latina, Vini Portugal, 1998

Nenhum comentário: